sábado, 25 de janeiro de 2014

A história do estilo musical genuinamente brasileiro - CHORO


No início, o Choro era apenas difundido entre grupos de instrumentistas que aos sábados e domingos se reuniam na casa de um deles para fazer música. Foi a partir de 1880 que se popularizou nos salões de dança e no subúrbio carioca.
Grupo de choro do início do século XX. VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira na Belle Époque. Rio de Janeiro: Liv Sant’Anna, 1977

O Choro surgiu no Rio de Janeiro em 1870, originando da fusão de ritmos europeus com ritmos afro-brasileiros. Eles utilizavam, entre outros instrumentos, violão, flauta, cavaquinho, que dão à música um aspecto sentimental, melancólico e "choroso". O nome deste estilo musical pode ter sido derivado da palavra xolo, que era um tipo de baile que os escravos faziam no período colonial, ou talvez, pela maneira chorosa que os músicos amaciavam certos ritmos de sua época.
Mas o choro se afirma efetivamente como tal a partir do estilo peculiar desenvolvido pelo flautista Joaquim Calado (1848-1880) e em torno de seu conjunto “O choro de Calado”, que incorpora diferentes influências como a polca e outras danças de salão importadas da Europa como a valsa, a modinha, o xote e o minueto; sendo esses todos aqui mesclados ao lundú, um ritmo vindo de Angola. O Chorinho convive com esse paradoxo de ter se tornado um estilo extremamente popular, a despeito de requerer uma grande tecnicidade. Ele deixa um espaço importante para a improvisação e suas variações, o que lhe confere o título de "jazz brasileiro". Uma denominação errônea, uma vez que o choro surgiu bem antes desse gênero americano. Com o tempo, sua forma cantada vem a auxiliar, em parte, a sua divulgação.
Quando Joaquim Callado compôs “Flor Amorosa”(video abaixo com uma das mais belas interpretações - Altamiro Carrilho), por volta de 1870, e o classificou como choro, nasceu a música popular brasileira. Muito se estudou sobre os anos que se seguiram, muito se escreveu sobre os gêneros populares que surgiram a partir daí, mas pouco se pesquisou sobre o que antecedeu o nascimento da nossa música popular. Os documentos e estudos anteriores a esta data são escassos e a raiz negra da música brasileira era vista com extremo preconceito por parte da elite branca “civilizada” – cabe destacar que, quando Joaquim Callado criou a melodia brejeira do seminal choro, vivíamos, ainda, sob a égide da escravidão.




O flautista Joaquim Callado, professor de flauta do Conservatório de Música, criou o grupo Choro Carioca, ou Choro do Callado, no Rio de Janeiro.  Era formado por violão, cavaquinho e flauta.

Por esta época, surgiram na Cidade Nova, grupos de músicos chorões. Alguns desses músicos eram o flautista e saxofonista Viriato Figueira, os flautistas Virgílio Pinto, Saturnino e Miguel Rangel, Juca Vale-Violão, Luizinho, Baziza Cavaquinho, entre foutros. Animavam batizados, casamentos, bodas, aniversários, festas e bailes populares, festas religiosas, carnavais. Não tocavam por dinheiro, apreciavam porém a boa mesa da casa para a qual eram convidados a tocar. Os músicos eram em maioria do baixo escalão do funcionalismo público, como carteiros. Sua música, uma fusão do lundu com a polca, era inicialmente um jeito abrasileirado de tocar, não se constituindo até os anos 1910 num gênero propriamente musical. 


Joaquim Calado
Mas o que havia antes disso? 
O livro, de Alexandre Gonçalves Pinto, apelidado de Animal, retratou o perfil de cerca de trezentos chorões antigos, do Segundo Império e Primeira República. O autor retratou o momento em que  o choro ainda era um estilo de tocar as músicas européias como valsa, mazurca, quadrilha, schottisch, polca e as músicas nacionais como tango brasileiro, maxixe, modinha e lundu. Alguns dos grandes músicos dessa época foram o flautista Patápio Silva, os violonistas João Pernambuco e Sátiro Bilhar, para só citar alguns.

PINTO, Alexandre Gonçalves Pinto. O Choro. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2009. capa

A criação do choro pode remontar à vinda da família real de Portugal para o Brasil, em 1808, se pesquisarmos suas origens mais remotas. Junto com a côrte, assistimos à chegada de instrumentos tipicamente europeus como o piano, a flauta, a clarineta e o bandolim; e, mais tarde, o saxofone - esse último inventado pelo belga Adolphe Sax, em 1840. E, sim, o grande Pinxinguinha deve alguma coisa à Bélgica!  (tropicalia, site, 2014).


PINTO, Alexandre Gonçalves Pinto. O Choro. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2009. p.1.
No início, era apenas um grupo de instrumentistas que aos sábados e domingos se reuniam na casa de um deles para fazer música. Foi a partir de 1880 que o choro popularizou-se nos salões de dança e no subúrbio carioca. Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga foram os primeiros compositores que deram características próprias firmando-o como gênero musical.

Ernesto Nazareth
Chiquinha Gonzaga


No início do século XX começou a ser cantado, deixando de ser apenas instrumental. Aproxima-se do maxixe e do samba e adquiriu um rítmo mais rápido, agitado e alegre. Nesta mesma época surge o chorinho ou samba-choro, também conhecido como terno, por causa da delicadeza e sutileza de sua melodia. 

Na década de 30, com o apoio do rádio e com investimento das gravadoras de disco, tornou-se sucesso nacional. Uma nova geração de chorões organizaram-se em conjuntos chamados regionais e introduziram a percussão nas composições. Alfredo da Rocha Vianna Filho, Pixinguinha, foi o principal nome do período, autor de mais de uma centena de choros e um dos maiores compositores da música popular brasileira. . Sua importância foi tamanha que o Dia Nacional do Choro foi estabelecido em 23 de abril, data de seu aniversário. Tal homenagem foi proposta pelo senador Artur da Távola e aprovada pelo Presidente da República em 4 de setembro de 2000. 

Na década de 50, o estilo musical perdeu seu espaço devido ao surgimento da Bossa Nova, mas manteve-se presente na produção de vários músicos da MPB. Foi redescoberto na década de 70, quando criaram os Clubes do Choro, que revelam novos conjuntos de todo o país e os festivais nacionais.

Atualmente o Choro ainda é prestigiado por muitos, é fortalecido por grupos que se dedicam à sua modernização e divulgação de novos artistas. 


Cronologia do Choro
1808 - Familia Real chega ao Brasil com muitos músicos, instumentos, ritmos e festas.
1845 - A polca, dança européia, fez sua introdução no Rio de Janeiro
1848 – D. Pedro II criou o Conservatório de Música no Rio de Janeiro.
1870 – Em aproximadamente 1870 nasceu o choro no Rio de Janeiro.
1845 - A polca, dança européia, fez sua introdução no Rio de Janeiro
1848 – D. Pedro II criou o Conservatório de Música no Rio de Janeiro.
1870 – Em aproximadamente 1870 nasceu o choro no Rio de Janeiro.
1872 – Lançamento do primeiro tango brasileiro “Ali-Babá”, de Henrique Alves de Mesquita.
1877 – Chiquinha Gonzaga criou sua primeira música a ser editada, "Atraente". (VÍDEO)
1883- Foi grafada na imprensa a palavra maxixe.
1893 - Ernesto Nazareth editou o tango 1845 - A polca, dança européia, fez sua introdução no Rio de Janeiro
1896 – Foi criada a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro pelo maestro Anacleto de Medeiros.
1907- Foi criado o rancho “Ameno Resedá”.
1919 - Sob a liderança de Pixinguinha foi criado o conjunto “Oito Batutas”.
1928- Primeira gravação de “Carinhoso” de Pixinguinha.
Anos 1930 – Começaram os regionais do rádio. (VÍDEO)
1933- Primeira apresentação amadorística de Jacob do Bandolim.
1936- Foi lançada a primeira edição de “O Choro-Reminiscência dos Chorões Antigos”.
1946 – Nasceu a famosa dupla entre Pixinguinha e Benedito Lacerda.
1949 – Waldir Azevedo gravou o choro “Brasileirinho”.
1954 e 1956 - I e II Festivais da Velha Guarda.
Anos 1960 - Jacob do Bandolim e o grupo Época de Ouro começam a tocar juntos.
Anos 1970 – Foi a década do renascimento do choro para as grandes platéias.
1973 - Estreou o show "Sarau" no Teatro da Lagoa.
1975 - O bar “Sovaco de Cobra” foi ponto de encontro de músicos do choro.
1976 - Surgiu o grupo "Os Carioquinhas".
1977 a 1980 - Concursos de Conjuntos de Choro e Festival Nacional do Choro.
1979 - Surgiu o grupo "Camerata Carioca".
1984 – Prefeitura patrocinou oficinas de choro.
1985 – A "Estácio de Sá" homenagiou o choro no carnaval.
1987 - Surgiu "O Trio"/ Formou-se o grupo "Joel e o Sexteto"/ Uma nova oficina de choro foi criada na Escola Brasileira de Música.
1988 – Orquestra Pixinguinha.
1993 e 1994 - Foi formado o conjunto “Rabo de Lagartixa”/ O "Água de Moringa" lançou seu primeiro disco.
1995 – Lançamento do 1° disco solo de Zé da Velha/ Lançamento da revista "Roda de Choro"/ Morreu aos 33 anos o violonista Raphael Rabello.
1996 - Realizado o festival Chorando Alto.
1997 - O “Conjunto Sarau” inaugurou uma série de shows no Humaitá/ O Quarteto "Maogani" grava seu primeiro disco/ São formados os grupos “Trio Madeira Brasil” e "Pagode Jazz Sardinha’s Club".
1998 - Surgiu a Acari Records, a primeira gravadora exclusiva de choro/ Henrique Cazes lançou o livro "Choro: do quintal ao Municipal".
2000 – Foi fundada a Escola Portátil de Música/ O grupo “Choro na Feira” fez de uma feira o seu palco. (VÍDEO - ENTREVISTA COM MAURÍCIO CARRILHO)
2001 – É inaugurada a gravadora Biscoito Fino/ Organizado o Festival "Chorando no Rio"/ Organizada a exposição: "Choro: do quintal ao Municipal"/ Foi instituído o Dia Nacional do Choro
2002 - Foi fundado o Instituto Jacob do Bandolim/ O Conjunto Sarau gravou o disco “Cordas Novas”.
2004 - Formado o grupo “Tira Poeira”.
2005 - Lançamento do documentário “Brasileirinho”.
2007 – 1° encontro musical de Hamilton de Holanda e Yamandú Costa.
2010 e 2011 - Surgiu o grupo "Pixin Bodega"/ O quarteto Radamés Gnattali lançou o álbum "As quatro estações cariocas".

Fontes:
 www.jbonline.com.br
www.sambossa.com.br
Tropicalia site 2014 - http://www.tropicalia.be/pt/2011/04/No_programa_deste_23_de_abril__Sao_Jorge_e_o_Chorinho_/68/#sthash.y9aBz0Wd.dpuf

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